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LARA CARVALHO
realizadora audiovisual

Eu odeio a expressão
"cavaleiro de armadura reluzente".
dragão-do-mar
Você não é um cavaleiro e eu não sou uma donzela.
Estou em apuros e posso lidar com isso.



E sou mar, sou rio, sou mangue, sou tempestade.

E você até usa sua armadura, mas certamente não é para derrotar nenhum dragão – suas cabeças recostam no meu colo, eles ronronam e respondem aos seus nomes e nem ouse tocar neles.
É então que você o leva aos seus olhos – um escudo de metal redondo, sujo e acabado. E tudo que consigo ver no reflexo são meus olhos me fitando de volta.

Eu me entrego às mudanças, eu insisto em sentir e ser sentida.
Você age como Manannan em carne e osso, mas ousa se aventurar nas águas e não quer se molhar?

Onde eu sou as ondas, você é a pedra.
Você permanece imóvel e me permite mergulhar
e mergulhar
e mergulhar
até eu quase me afogar.


Então você se ergue da areia movediça da qual fez com seus medos
e me carrega e joga sobre o seu ombro.
Chegamos à terra e eu engasgo em seus braços
conforme a água sai dos meus pulmões
e eu olho para cima....
e eu vejo aquilo te inundar.


EU ME SINTO COMO
MEDUSA
QUANDO VOCÊ
ME OLHA ASSIM.

VOCÊ REVERTE
À PEDRA
E SOU LANÇADA
DE NOVO AO MAR
COMO UMA SIRENE
QUE AGUARDA
UM NAVIO A NAUFRAGAR.

Eu não posso prometer oceanos calmos,
ou docas seguras,
nem o calor do sol.


Eu não vou me desculpar
por como os raios fulgem
durante uma tempestade.

EU TRANSBORDO
E EU QUEIMO
COMO MAGMA
DA TERRA.

Eu não sou a donzela,
eu sou o próprio dragão.
EU FAÇO MINHA CASA
NA PROFUNDEZA DAS ÁGUAS ESCURAS
E ERGO-ME
EXPELINDO UM FOGO
TÃO PODEROSO,
QUE TRANSFORMA SUA ARMADURA
EM CINZAS.
dragão-do-mar
escrita transbordada por Lara Carvalho
em Salvador, Bahia, 2016.
ilustrado para web por Lara Carvalho,
em Salvador, Bahia, 2020.
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